segunda-feira, 4 de julho de 2011

1 - Fusão: Pão de Açucar e Carrefour

'Até o momento não cometi nenhum deslize ético', diz Abílio
Para o empresário, críticas à participação do BNDES na fusão são resultado de 'falha de comunicação'

Ator principal na polêmica em torno da fusão que pode sacudir o varejo brasileiro e em paralelo questionar as prioridades do BNDES, o empresário Abilio Diniz afirma estar seguro de seus atos. "Tudo será feito respeitando o contrato com o Casino", diz o líder do Grupo Pão de Açúcar, referindo-se aos seus sócios franceses - os quais, garante, "sabiam de tudo". O Casino tem afirmado o contrário do que sustenta Diniz (leia box). "Nunca me passou pela cabeça que isso fosse acontecer", disse Diniz. No final da tarde da sexta-feira, ele expôs ao Estado a sua versão.

O Pão de Açúcar não está desrespeitando um contrato, com sério risco de uma repercussão negativa até no plano internacional?

Temos vários pareceres jurídicos de que a nossa conduta está respaldada pelo acordo de acionistas. Não estamos cometendo nenhuma irregularidade ao prospectar negócios. Eu cometeria irregularidade se não seguisse os ritos da governança corporativa. Garanto que até o momento não cometi nenhum deslize ético. O contrato com o Casino será respeitado integralmente. O problema é que o Pão de Açúcar não tem estrutura de capital para crescer. Teria espaço para novo endividamento, mas eles (os franceses) não têm como acompanhar. Eles têm "covenants" (comprometimentos) que os impedem de acompanhar um novo endividamento. O Grupo precisa rever sua estrutura de capital para crescer, até internacionalmente. Não que o Brasil não tenha espaço, mas há oportunidades. E nós temos certeza de que podemos contribuir com a operação do Carrefour.

Mas o sr. não discutiu e alinhou isso com seus sócios do Casino?

Nós fizemos uma proposta para eles, mas eles nem analisaram. O Jean-Charles (Naouri, presidente do Casino) sempre foi muito briguento, mas eu disse a ele: "comigo você não vai conseguir brigar". Nosso relacionamento sempre foi muito bom, mas se alterou quando comecei a apertá-lo nessa questão da estrutura de capital.

Quando surgiu a ideia da fusão?

Eu estou estudando o Carrefour há dois anos. Tenho visitado muitos países, conhecido a operação. E o Casino sabia disso. Quando chega o momento, eles dizem o que é conveniente para eles!

Há severas críticas no sentido de que o BNDES não deveria apoiar essa fusão no varejo.

Acho que houve uma falha minha nesse ponto, uma falha de comunicação. Eu sempre achei que numa operação desse porte seria bom ter o "brand" do BNDES, e eles demonstraram interesse. Fui tratado com elevado profissionalismo. Nossas conversas com o banco começaram em fevereiro. Eles enxergavam a possibilidade de um bom negócio.

O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), criticou os bancos privados por não cumprirem adequadamente sua missão de fomento empresarial. O sr. procurou outros bancos?

Não. Achei que caberia mais ao BNDES e a fundos. O BTG Pactual, no começo, queria uma participação maior, depois se adequou. Mas se vierem outros fundos serão bem-vindos. Depois da operação montada, se o BNDES quiser diminuir sua fatia... Tenho certeza de que mais players poderão ser atraídos.

O sr. foi contatado por fornecedores, preocupados com a fusão?

Os fornecedores sempre dizem isso, que vão ser apertados etc... Mas a concentração não vai ser tão grande. Pelos dados de fatias de mercado do Instituto Nielsen, se você somar o Pão de Açúcar e o Carrefour, em números arredondados, teremos 5% das vendas da Ambev. Da Nestlé, ambos terão 14%, no máximo. Da Unilever não chegaremos a 16%.

Qual a sua expectativa em relação à posição do Cade?

Sempre conversamos bem com o Cade. Temos números que mostram que as duas empresas estariam presentes em cerca de 170 municípios. Apenas em um terço teríamos uma fatia de mercado maior do que 30%, que é o nível de concentração que preocupa o Cade. Em alguns municípios poderíamos ter algum problema, e estamos dispostos a negociar.

Além das questões dos consumidores, o que dizer das potenciais demissões?

Temos tido uma alta rotatividade de pessoal, devido ao aquecimento da economia. Estamos sempre admitindo.

Pode haver fechamento de lojas em algumas localidades, pela proximidade entre elas?

Nossa equipe vai sair a campo nos próximos dias para estudar isto. Em três semanas acredito que o trabalho estará pronto.

O Casino publicou na quarta-feira um anúncio bastante crítico ao sr., afirmando, entre outras coisas, que o movimento é "ilegal" e feito "em segredo".

Eles vieram com um ataque enfurecido, com muita ironia. Nunca me passou pela cabeça que isso poderia acontecer.

Quais são os próximos passos?

Temos que seguir os ritos da governança corporativa. Primeiro, vamos reunir os conselhos Consultivo e Fiscal. Depois, faremos a reunião da holding, para em seguida realizar a reunião do Conselho de Administração. Só então chamaremos a Assembleia Geral de Acionistas.
Fonte: Ageência Estado.

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