domingo, 30 de janeiro de 2011

Falta de civilidade atrapalha autoridades e prejudica o patrimônio público

Em Porto Alegre, deverá ser lançada nas próximas semanas uma campanha destinada a combater a má-educação urbana

Em um ano, a Brigada Militar recebe mais de 300 mil trotes no Estado. Todos os meses, 6,6 mil orelhões são danificados. Diariamente, mais de 400 motoristas são multados por estacionar o carro em local proibido.

Os números escancaram como a falta de civilidade conturba a vida de gaúchos e brasileiros, desafiando sociedade e autoridades a encontrar soluções. Em Porto Alegre, deverá ser lançada nas próximas semanas uma campanha destinada a combater a má-educação urbana.

Na semana passada, a pichação da chaminé da Usina do Gasômetro – um dos cartões-postais da Capital – se transformou em mais uma evidência da falta de cuidado da população com o patrimônio público. No mesmo dia, nove toneladas de lixo foram retiradas do Delta do Jacuí, e ladrões furtaram parafusos da canalização do Conduto Álvaro Chaves. Consultas a órgãos públicos e empresas privadas, porém, mostram que o impacto das más ações é bem mais amplo.

Embora não exista uma contabilidade global dos prejuízos financeiros e morais provocados pela incivilidade, é fácil perceber o custo social gerado pelo registro de 37 trotes a cada hora para o telefone de emergência da Brigada Militar – que muitas vezes resulta na mobilização inútil de homens e viaturas, além de ocupar linhas telefônicas prioritárias. Para a historiadora e cientista política da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) Ana Simão, a origem de comportamentos como esse está na relação do cidadão comum com o Estado.

— A sociedade não percebe o que é público como seu. O resultado disso é a necessidade de que o Estado esteja presente em tudo o tempo inteiro — avalia, lembrando que o perfil patrimonialista do Estado brasileiro reforça esse sentimento.


O impacto em números

Confira alguns exemplos, possíveis de serem medidos, dos prejuízos


Pichação

1.254 prédios
públicos ou privados da Capital danificados
por vândalos nos últimos quatro anos e sete
meses. As pichações resultaram em 88 adultos
e 159 adolescentes autuados e identificados.
A prefeitura de Porto Alegre não dispõe
de informações, porém, do quanto a depredação
onera os cofres públicos.


Telefones

6,6 mil orelhões

(10% dos 66 mil aparelhos do Rio Grande
do Sul) sofrem, a cada mês, em média,
algum ato de vandalismo. Os casos mais
comuns envolvem danos às leitoras de
cartões, ao fone, ao teclado, pichações e
colagem de propaganda.


Iluminação pública

R$ 188 mil

de prejuízo

nos últimos três anos em decorrência de
atos de vandalismo contra a iluminação
pública da Capital, obrigando a reposição
de luminárias, cabeamento, reatores
e postes.


Trânsito

157 mil multas aplicadas

em 2010 por estacionamento indevido em todo o Rio Grande do Sul
– o terceiro tipo mais comum de infração –, conforme dados preliminares
do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Além de prejudicar
a circulação dos demais motoristas, essa atitude atrapalha a
vida de pedestres.

Segurança pública

327.770 trotes
aplicados à Brigada Militar em um ano, apenas em Porto Alegre. São,
em média, 37 ligações por hora, feitas geralmente por adolescentes,
principalmente nas férias. Em janeiro do ano passado, foram 35.643,
superando a média mensal de 27 mil. Além de causar desgastes
desnecessários, os trotes ocupam uma das 15 linhas disponíveis no
Ciosp da Capital, impedindo que ocorrências reais sejam informadas.

Transporte coletivo

90 ônibus,em média,

da empresa Carris, da Capital, voltam para a garagem com algum dano
provocado por passageiros mal-intencionados, a cada mês. O desrespeito
envolve desde riscos na carroceria, fixação de adesivos e chicletes
nos bancos – mais comuns – até ações mais graves como vidros
quebrados ou lixeiras arrancadas. Isso significa que, em um mês, até
um quarto da frota é vítima de alguma forma de falta de educação.

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